Irmaos Karamazov, Os
A**S
Qual tradução escolher?
Sobre a obra, só posso dizer que foi uma das melhores que já li! Com um enredo vasto e cheio de personagens, Dostoiévski nos leva a refletir acerca de temas importantes, que tiram nosso sossego até os dias de hoje.Sobre as traduções, em todas há perdas estéticas e de estilo. O tradutor está lidando com outra língua, outras regras, outra cultura e com um escritor de uma outra época. O simples fato de ser uma tradução direta (TD) não significa que ela seja boa, ou próxima do original. Temos que considerar que as traduções indiretas (TIs) não são necessariamente piores do que as TDs. No entanto, um profissional hábil, que realiza uma TD, está bebendo diretamente da fonte do autor. As chances de distorções são maiores em TIs, onde o tradutor está utilizando como base um texto já alterado, que já não expõe as exatas palavras de seu criador, afinal é a tradução de uma tradução.Sabemos que a tradução de Paulo Bezerra é direta do russo, a partir de uma versão crítica do romance, e que a de Herculano Villas-Boas é indireta, a partir do francês, pois ele é especialista em francês, não em russo.Quem ler a TI de Herculano Villas-Boas estará lendo a mesma história, os mesmos acontecimentos, entretanto, com prejuízos estéticos. Se já houve perdas na tradução para o francês, então imagina do francês para o português! Se a edição de “Os irmãos Karamázov” da Martin Claret tivesse sido traduzida por Oleg Almeida, seria minha preferência. Gosto e confio no trabalho dele, e não entendo o motivo de terem passado a função para Herculano Villas-Boas, que também é um baita profissional, com ótima formação acadêmica (doutor em Letras e Teoria Literária), porém seu empenho resultou numa TI, quando a editora poderia dispor de uma TD. Oleg apenas executou uma revisão técnica em “Os irmãos Karamázov visando russificar o texto. Todavia, as traduções assinadas por ele são excelentes e diretas do russo, afinal essa é sua língua materna.Paulo Bezerra é um grande e experiente tradutor, professor e crítico literário, e a Editora 34 é uma empresa muito séria, que ajudou a popularizar as traduções diretas da literatura russa. Tem gente que critica o trabalho de Bezerra, chamando-o de comunista por causa de seu posfácio ao livro “Os demônios”. Se querem julgar sua tradução, então façam de maneira técnica, não com base em preconceitos! Opinar em um posfácio é uma coisa, o que ele não pode fazer é alterar o texto traduzido, deturpando-o conforme seus valores pessoais e políticos. Isso não ocorreu, ele não alterou o que Dostoiévski disse!Aquele que adquirir a versão da Martin Claret (que não é ruim) conhecerá o enredo, o desenrolar da trama, os debates filosóficos e terá em mãos um belo produto em capa dura. Apesar disso, para uma experiência mais completa e próxima do original (próxima, já que não existe tradução perfeita), eu indicaria a edição da Editora 34, que possui maior valor acadêmico e, acima de tudo, é a única tradução direta da obra disponível nas livrarias brasileiras. Ao menos até o momento.Não há diferenças tão gritantes assim entre as traduções. Entretanto, ter a oportunidade de adquirir uma TD de qualidade é sempre preferível.
L**A
Ótimo!
Excelente tradução, excelente acabamento do livro com a capa protetora dos dois volumes.
G**E
Você não sairá o mesmo após ler essa obra
A obra Os Irmãos Karamázov, de Fiódor Doistóievski, não é apenas literatura; ela é também um tratado de filosofia e um estudo psicológico, como já foi afirmado aqui por outro resenhista.A obra mostra acontecimentos em uma pequena cidade russa do século XIX, em que vive a família Karamázov. Pode-se dizer que cada membro dessa família representa um princípio ou modo de viver. O pai representa o hedonismo. O filho mais velho, Dmitri ou, como uns chamam, Mítia, representa o romantismo. O filho do meio, Ivan, representa o racionalismo e o ateísmo. E o filho mais novo, Aliócha, representa o cristianismo autêntico ou o espiritualismo.Mas esses personagens não são de maneira alguma simples. São extremamente complexos. O autor mostra, no decorrer de toda a sua obra (embora de forma não tanto explícita) a preferência por Aliochá, que representa os ensinamentos autênticos de Cristo. Ele é, segundo o próprio autor, o "herói" de sua história. Porém, Dmitri e Ivan são basicamente tão interessantes quanto Aliochá.Dmitri é um romântico, que vive dia após dia perseguindo seus impulsos emocionais elevados, acima de tudo impulsos amorosos. É fácil identificar-se com ele, pois quem nunca achou interessante a ideia de aproveitar o máximo que a vida pode nos oferecer, e a ideia do carpe diem? Mas Dmitri é infinitamente mais complexo do que esta breve descrição, o que a gente vê bem no final da obra.Ivan é um ateu e racionalista, duas coisas que Dostoiévski desprezava. Porém, Ivan é um dos ateus mais inteligentes que já vi. Mesmo seu racionalismo não é um racionalismo puro, uma vez que Ivan tem bom conhecimento das humanidades em geral. Apesar da obra como um todo apresentar a rejeição de seus ideais, Ivan é um personagem bem convincente e que causa até certa empatia. O trecho da obra "O Grande Inquisidor", elaborado por Ivan, com sua aceitação parcial no livro e sua réplica (mesmo um tanto oblíqua) por Zossima (o padre mestre de Aliócha) são cruciais para a obra como um todo.Aliócha é o modo de viver ideal. Antes pretendendo viver em um mosteiro, recebe de Zossima a instrução de que deve ser não um monde no mosteiro, mas um "monge no mundo". Apesar de todas as suas tribulações e pecado no mundo, Aliochá deve viver nele e causar e realizar seu impacto nele. O final da obra, no qual a participação de Aliochá é crucial, representa uma das cenas mais sublimes que já vi na vida e me fez correr lágrimas nos olhos.Por meio da apresentação desses três personagens e do que eles passam, Dostoiévski basicamente nos fornece um tratado filosófico que, por estar entremeado de uma trama interessante e fidedigna, é basicamente mais poderoso do que qualquer tratado filosófico real que se pode ler.Há vários outros personagens secundários que não deixam de ser interessantes, como por exemplo as mulheres Gruchenka, Lise e Catierina Ivánovna. O autor nunca cria cenas forçadas ou tenta nos "moralizar". Se ele "moraliza" de alguma forma, é apenas indiretamente, através do resultado da obra como um todo. A facilidade com que Dostoiévski escreve nos faz parecer que a obra não foi escrita de fato, mas é simplesmente a narração do que realmente aconteceu ali.Além disso, há a análise psicológica aguçada entremeada nas cenas. Essas análises nos vêm por meio de pequenos trechos ou observações do autor que são presentes em toda a obra. Isso por si só já a faz valer à pena. Vou fornecer dois exemplos bastante simples dessas observações psicológicas.O primeiro exemplo é quando o padre Zossima, na presença de Aliócha, estava num encontro com pessoas que foram visitá-lo para receberem instruções. Lise, uma conhecida e amiga de infância de Aliócha, lá estava com sua mãe, mas Aliócha quase não lhe dava atenção, focando apenas nas palavras de Zossima. Em razão disso, Lise estava fazendo travessuras com Aliócha: ficando o tempo todo olhando para ele e, quando ele de repente se virava o rosto para ela, ela ria dele. Zossima percebe isso e pergunta a ela: "Por que, sua travessa, insiste em deixar Aliócha acanhado?" Ela responde:"E ele, por que esqueceu tudo? Carregou-me nos braços quando eu era pequena, nós dois brincávamos juntos. Ele ia à minha casa me ensinar a ler, o senhor sabia? Dois anos atrás, ao se despedir de mim, disse que nunca iria esquecer que éramos amigos eternos, eternos, eternos! E agora eis que de repente tem medo de mim, pensa que vou comê-lo? Por que não quer se aproximar, por que não conversa? Por que não quer nos visitar?"Outro exemplo bastante simples é quando um casal, cujo relacionamento só lhes causava problemas, o que levou ao seu término, encontraram-se no final e se desculparam, quase declarando um amor real (novamente) entre si naquele momento. Dostoiévski observa:"Assim os dois balbuciavam um para o outro umas palavras quase sem sentido e desvairadas, talvez até inverídicas, mas nesse instante tudo era verdade, e ambos acreditavam sem reservas em si mesmos."Uma resenha nunca será capaz de fazer justiça a essa obra. Mas concluo que, a meu ver, apesar de ser uma obra gigante (mil páginas), Os Irmãos Karamázov vale muito à pena a leitura. Ela é mais do que apenas literatura: é um grande tratado filosófico com sagazes observações psicológicas. E acredito que você nunca sairá o mesmo após ler essa obra.
J**A
Impressionante
Impactante, perturbador e sublime. É um romance grandioso, tanto por seu tamanho, como por sua riqueza.Temos uma obra definitiva do gênio de Dostoiévski: nela coexistem todos os elementos da extensa obra do autor, sem tirar nem pôr. É, ainda, um retrato da Rússia, mas não se engane: essa obra alcança o universal a partir do particular. Ao retratar o homem russo, o autor retrata o homem de qualquer nação.Sobre a história, cabe um resumo. O cerne do livro é a família Karamázov, cujo patriarca era um lascivo sem tirar nem pôr. Acaba trazendo ao mundo três filhos (além de um possível filho bastardo, também importante para a trama): Dmitri, filho do primeiro casamento e um romântico incurável (o romantismo em geral é tratado na obra como sinônimo de lascívia), totalmente guiado pelos seus desejos; Iván, filho do segundo casamento e um realista em contínuo conflito com seus próprios desejos e Alieksêi, irmão mais novo de Iván, que representa a síntese, a mente curada, devido a sua elevação espiritual. São essas as três psicologias em torno das quais a história gira e se desenvolve a poética. Seria injusto de minha parte buscar dizer sobre o que a obra trata principalmente, pois frente à riqueza dos temas, só nos resta dizer que é um pretensioso livro que buscava abranger a Rússia em sua giganteza.Aviso que aparecem alguns personagens e incidentes que parecem aleatórios, ou que não se encaixam bem com a história. Ao se chegar ao final, percebe-se que cada elemento é importante e que o autor não perdeu sequer uma linha com inutilidades. Além disso, deve-se ter em mente que Doistoiévski pretendia fazer um segundo romance, que seria uma continuação desse. Apesar disso, essa incompletude não se deixa sentir no final, pois o livro é um todo coeso.Leitura obrigatória para todos que se interessam por literatura, sobretudo esta edição da editora 34, que conta com ótimo material e uma primorosa tradução de Paulo Bezerra.
C**I
Leitura futura
Ainda não li
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2 months ago
1 month ago